Itália, belissima – Veneza e Ilhas, Florença, Siena, Bolonha e  Milão

Parte I – Veneza, Murano, Burano e Lido

Itália é, sem dúvida, um dos meus países europeus favoritos. Repleto de história, arte, arquitectura, boa comida e excelente vinho… enfim, da simplicidade de desfrutar da vida e do que acredito ser o segredo italiano para a longevidade, o “Dolce far niente”.

Veneza, a “Cidade Flutuante”, misteriosa, vê o seu encanto reforçado no Carnaval. 10 dias (este ano de 16 de Fevereiro a 5 de Março) de máscaras, magia e fantasias.

Como chegar à cidade:

Aterrámos no aeroporto Marco Polo, localizado a cerca de 8 km da cidade. É utilizado pela maioria das companhias aéreas e o que apresenta melhores conexões.

Optámos por entrar em Veneza de ferry, da Alilaguna (Linha laranja), que nos levou à Praça de S. Marcos em cerca de 50 minutos. Desfrute a viagem e registe a entrada em Veneza pela sua porta principal, o Grande Canal. É um momento de cortar a respiração.

Alojamento:

Hospedar-se em Veneza é quase sempre dispendioso e os preços variam imenso…e disparam com a loucura do Carnaval. Prepare a carteira! Afinal, como diz o povo, que é sábio nestas questões: «Esta vida são dois dias e o Carnaval são três.»

Prepare-se para o estilo Veneziano de algumas habitações, que até se tornam um pouco claustrofóbicas. Vi quartos forrados a tecido, com as portas acolchoadas…em vermelho imagine só. E ambientadores por todos os lados, ainda que, felizmente, não tenha sentido o tão famoso odor veneziano.

Como se deslocar na cidade:

Vaporetti:

O sistema de transportes públicos de Veneza, denominado Azienda Trasporti Consorzio Veneziano (ACTV) combina o transporte terrestre de autocarro com o aquático através dos Vaporetti (barcos-autocarros/ferries) em cerca de 25 rotas que ligam os vários pontos da cidade.

Os bilhetes ACTV dão acesso a todas as linhas dos vaporetti ACTV, excepto às linhas 16, 19, 21, Casino e às linhas Alilaguna!

Com os vaporetti conseguimos percorrer grandes distâncias, mas leve calçado bem confortável porque não vai poder escapar a grandes caminhadas, subidas e descidas de muitas escadas…afinal de contas, Veneza tem 434 pontes! E por vezes, estas pontes obrigam-nos a grandes desvios para nos deslocarmos para onde queremos. Assim, a menos que pretenda fazer um pouco de exercício, leve consigo um mapa e poupará as suas pernas a uns valentes metros.

Gondola:

Este clássico barco veneziano é utilizado actualmente pelos turistas e pelos locais em casamentos, funerais e outras cerimónias. Permite-lhe um passeio encantador ao ritmo veneziano. No bairro Cannaregio encontrarão as gôndolas mais tradicionais. Voltaremos a este meio de transporte mais à frente.

Traghettos:

São uma espécie de gondolas públicas, simples, usadas para cruzar o Grande Canal pelos locais onde não existe nenhuma ponte. São muito económicos.

Estas gondolas não são turísticas e os venezianos atravessam o canal em pé, em fila. Só os turistas se sentam…por muito pouco não mergulhei involuntariamente no grande canal. Foi a destreza do gondoleiro que, com mil malabarismos, conseguiu assegurar o equilíbrio do traghetto, enquanto, com um ar completamente desesperado, gritava para um turista americano bem nutrido: “troppa massa, troppa massa”.

E acredite, mergulhar no grande canal não deve ser nada agradável a julgar pela cor da água.

Depois de olharmos para o “engarrafamento de gondolas que se fazia sentir nesse dia” e para terror do gondoleiro, divertimos-nos imenso atravessando o canal repetidas vezes para compensar o facto de não passearmos, nesse momento, na gondola turística.

A pé:

Aproveite para queimar aquelas calorias extra trazidas pelas massas, risotos e gelados que teve de provar para conhecer a gastronomia italiana, contrariada(o), claro está.

Barco privado:

Para além de muito dispendioso, afasta-o da verdadeira Veneza.

 

Perca-se na cidade:

Veneza é uma cidade surpreendente, situada no nordeste de Itália. Extremamente fotogénica. Prepare-se para se perder duplamente na capital do Veneto, nos encantos e recantos das suas ruas e vielas. E é tão bom perder-se nesta cidade para se encontrar numa outra época.

A estrutura da cidade está basicamente assente em duas zonas divididas pelo Grande Canal, estando cada uma dessas zonas dividida, por sua vez, em 3 bairros, perfazendo um total de 6 bairros principais (sestieri): Cannaregio (o único que liga Veneza a terra firme), San Marco e Castello em cima; Santa Croce, San Polo e Dorsoduro em baixo. A ilha Giudecca pertence ao bairro Dorsoduro.

Cada um dos sestieri tem uma numeração que costuma ser formada por quatro cifras, um particular sistema de numeração que complica o trabalho de se orientar pelas ruas de Veneza.

No total são 118 ilhas, ligadas por 400 pontes e 177 canais. O centro histórico é totalmente pedonal.

O Grande Canal, antigo porto da cidade, é a sua avenida principal, mede cerca de quatro quilómetros e atravessa praticamente toda a cidade.

O Lido, Murano, Burano e Torcello são as ilhas principais da Lagoa. Existem outras, de menor dimensão, das quais vou apenas destacar São Miguel (onde está localizado o cemitério da cidade).

 

Dia 1

Piazza São Marcos, Basílica di San Marco, Campanile di San Marco, Palazzo Ducal, Torre dell’Orologio e Ponte dei Sospiri

 

                        

Iniciámos a nossa visita pela imponente e elegante Piazza São Marcos, que se subdivide numa praça menor junto ao mar. A magia desta praça transporta-nos em segundos ao passado. Adoro este sentimento de sonho e nostalgia, curiosamente por algo que não vivi.

Aqui respira-se história e arte…e muitas penas de pombas. Milhares de pombas, audazes e atrevidas que quase tiram selfies com os turistas em troca de um pedacinho de pão.

Deste local podemos observar a Basílica de São Marcos, o Campanário de São Marcos, a Torre do Relógio, o Palácio Ducal, a Antiga Procuradoria, a Ala Napoleónica, a Biblioteca Marciana e ainda o Grande Canal.

Vai perder o fôlego com tanta beleza. Pare para respirar um pouquinho no Caffè Quadri e desfrute de um dos cafés mais saborosos e mais caros da sua vida, ao som da música italiana.

Para evitar as filas das principais atracções de Veneza, compre os bilhetes online através de sites oficiais. Assim é só chegar e entrar!

A Basílica di San Marco  é uma obra-prima da arte bizantina. Vai cativar a sua atenção pois é, sem dúvida, uma das mais belas igrejas de Itália e uma das mais imponentes atracções desta praça. Delicie-se com os detalhes do interior, nomeadamente a Pala D’Oro ornamentada com pedras preciosas que pode observar atrás do altar.

Conhecido com o “Senhor da Casa”, o magnífico Campanile di San Marco é o edifício mais alto de Veneza, com 98,5 metros. Vale a pena subir ao topo para desfrutar da deslumbrante vista panorâmica da cidade, coroada por uma estátua de três metros do Arcanjo Gabriel sobre um catavento.

Os venezianos acreditam que quando o anjo gira em direcção à Basílica significa que a acqua alta está a chegar. Na “acqua alta” (fenómeno mais comuns de Novembro a Janeiro) as marés sobem. Tudo fica alagado, mas nada está perdido. Estas marés duram apenas algumas horas por dia. Toda a cidade está preparada para este evento. São montadas passadeiras sobre a água para permitir a passagem e os hotéis até fornecem calçado impermeável. Quando a maré baixa tudo regressa à normalidade rapidamente. É um espectáculo para mais tarde recordar.

Para além das horas, a Torre dell’Orologio mostra-nos os signos do zodíaco e o movimento do sol, guardados pela estátua do Leão Alado de S. Marcos e duas estátuas que tocam o sino, de hora em hora.

Em seguida desça e dirija-se ao mar. Vai poder observar o Palazzo Ducale, à esquerda. Reserve algum tempo para visitar este monumento, símbolo da arquitectura gótica e residência do dirigente máximo da república de Veneza, o doge. A entrada é na arcada do século XII e, agendando com antecedência, poderá escolher um roteiro secreto por pequenas celas, (onde esteve Giacomo Casanova), a Sala dos Inquisidores, espaços de controlo e poder, entre outros.

Ao sair caminhe até à beira-mar, vire à esquerda e chegará à Ponte della Paglia. Pode observar a Ponte dos Suspiros, por entre a multidão que costuma estar nesta paragem.

É inevitável ver e fotografar a Ponte dei Sospiri. Retrocedendo mentalmente no tempo, quase consigo imaginar os prisioneiros, saídos do Palácio após a sentença, arrastando-se a caminho do antigo presídio, Prigioni Nove, suspirando com angústia, nesta ponte, enquanto observavam a cidade uma última vez antes da sua reclusão. Dou por mim a suspirar involuntariamente…até porque nesta prisão, segundo contam, a segurança era muito eficiente porque, caso o prisioneiro escapasse, o carcereiro cumpriria pena no lugar deste.

No regresso à realidade, termine o dia num dos pitorescos restaurantes da Piazza San Marco e desfrute o sabor de Itália envolto na beleza nocturna do local.

 

Dia 2

Ponte di Rialto e Canalasso, Passeio de Gondola

Quatro pontes unem as margens do Grande Canal (Canalasso em veneziano). A Della Costituzione próxima à Piazzale Roma, a Scalzi próxima à estação, a Accademia próxima à Piazza San Marco, e a Rialto, a mais antiga localizada no coração de Veneza.

Considerada a mais emblemática da cidade, a Ponte di Rialto, para além do acesso à outra margem, possui diversas lojas onde pode fazer as mais variadas compras. Aqui a maior aventura é tirar uma foto com o menor número de turistas possível…

Faça compras no mercado Rialto e visite a livraria Acqua Alta. Vale a pena desfrutar deste espaço que combina o ambiente de livraria com o de mercado de rua.

Pode aproveitar este dia para fazer o famoso passeio de Gondola.

De Gondola, poderá aceder à mais bela perspectiva da cidade, sob ângulos que, de terra jamais conseguiria ver.

Escolha uma gondola cuidada com um gondoleiro tradicional (chapéu, blusa de riscas)…e que cante, de preferência bem! As suas fotos ficarão muuitooo mais bonitas e (se tiver sorte) ficará vidrado na sua voz ecoando pelos canais.

Cuidado com o embalo da gondola no grande canal, sobretudo se enjoa. Negoceie o trajecto com o gondoleiro, de forma a incluir no percurso os canais menores (canali minori) que só poder visitar através deste meio de transporte. Mesmo sendo mais movimentados, nestes canais poderá observar as hortas e jardins secretos, as residências de personagens famosos e as fachadas de belos palacetes de uma cidade construída sobre a água.

Esteja atento quando combinar o horário do seu passeio e zele pelo seu cumprimento comunicando ao gondoleiro o horário da gondola ao iniciar o passeio e no final do mesmo. Os horários são importantes pois o preço varia em função deles. Em dias muito quentes, é preferível realizar a visita mais tarde, com menos “odor”…ainda que este não apareça na foto…por enquanto.

Um ultimo pormenor…se quer impressionar a sua cara-metade leve uma garrafa de vinho. Vai agradecer-me esta dica.

 

Dia 3

Ilhas de Murano, Burano e Lido

Estas ilhas são facilmente acessíveis de Vaporetto (o mais fácil é apanhar a linha 12 na estação Fondamente Nuove que fica na fronteira entre os bairros Cannaregio e Castello).

O trajecto demora cerca de 30 a 40 minutos entre Veneza e Burano e cerca de 15 minutos entre Veneza e Murano. Tendo em conta que a grande maioria das excursões começam por Murano, facto que descobrimos no local, recomendamos-lhe fazer o trajecto inverso, iniciando a visita por Burano. Podem consultar aqui os horários da linha 12: E-Venise.

Famosa pela arte vidreira, Murano está apenas a um quilometro de Veneza, e é um arquipélago de sete pequenas ilhas.

Quem não ouviu falar dos famosos vidros de Murano? Desde 1291, altura em que os artesãos abandonaram a cidade devido ao risco de incêndio das fornalhas que esta ilha se transformou no centro da indústria vidreira.

É quase impossível sair de Murano sem assistir a uma demonstração da destreza de um artesão a fabricar peças com o famoso vidro soprado.

Para além das várias lojas de vidro, pode visitar a Igreja de Santa Maria e São Donato, a Igreja de São Pedro Mártir, o Palácio da Mula e, claro está, o Museu do Vidro (Museo Vetrario) localizado no encantador Palácio Giustinian.

Datada do século X/XI, a Basílica dei Santi Maria e Donato, é a igreja medieval bizantina mais antiga da Lagoa Veneziana. Num tom rosa-velho possui uma interessante colecção de vitrais que, segundo a lenda, guardam os ossos de um dragão capturado por São Donato, que permanecem até hoje junto ao altar.

O Museo Vetratio possui uma colecção extensa e requintada de peças antigas que nos contam a história e evolução do vidro ao longo dos tempos.

Quanto a Burano, é um arquipélago formado por quatro pequenas ilhas.

É adorável, 100% pitoresca e resplandecente pelo reflexo das cores vibrantes das habitações nas águas dos canais. Dizem os antigos que as cores permitiam aos pescadores encontrarem a ilha no meio da névoa no regresso a casa.

Esta ilha é também conhecida pela sua arte rendeira.

Burano recordou-me a paz da minha infância, com as crianças a brincar livremente nas ruas, as portas escancaradas dos vizinhos, a simplicidade de sermos felizes sem o sabermos…

Na Via Gattolo n.º 339, pode visitar a multicolorida casa do Bepi Suà, conhecido pela sua paixão pelo cinema.

Na Piazza Galuppi, visite a Igreja de San Martino e o seu campanário inclinado (1,83 metros) e o Museu de Cera.

Recomendamos-lhe uma pausa para desfrutar das iguarias locais. Se pretende saborear marisco de qualidade, visite Al Gatto Nero da Ruggero.

Com muita pena, abandonámos Burano e fizemos uma visita relâmpago ao Lido, a praia veneziana com 18 km de extensão de comprimento. Esta ilha acolhe o festival cinematográfico da Bienal de Veneza e o Festival Internacional de Cinema, que ocorre anualmente em Setembro. Para nós o lema foi…passear de bicicleta pela ilha. Pessoalmente só recomendo a visita a esta ilha para assistir aos festivais ou para desfrutar da praia, aproveitando para reler o romance passado no Lido, “Morte em Veneza”, escrito por Thomas Mann.

Gastronomia Veneziana:

Confesso que me perdi nos risotos que quase fazem parte do meu ADN.

O peixe e marisco são muito bons. Não deixe de provar baccalà Mantecato (bacalhau amanteigado), sardelle in soar (sardinhas marinadas em cebola) e caparossoli in cassopipa (marisco com salsa).

Acompanhe estas iguarias com os vinhos locais do Veneto de excelente qualidade.

Peça recomendações de Osterias, e irá provar, nestes pequenos restaurantes pitorescos, comida típica muito saborosa a um preço mais económico.

Quase esquecia os gelados…fantásticos gelados de fabrico artesanal que abundam por toda a Itália. Os melhores que já provei. Visite a Suso gelatoteca e não se vai arrepender.

 

Veneza e as suas flutuantes parecem saídas de um postal ilustrado. Cativaram-me e espero regressar um dia.

A Filha

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2 Comentários

  1. Hélia Março 6, 2019 at 6:10 pm

    Belíssimo artigo. Recomendo vivamente a sua leitura quer para quem vai viajar para Veneza, quer para quem já a visitou várias vezes como eu. Excelentes dicas e pormenores a não perder.

    Responder
    1. A Filha Março 6, 2019 at 8:29 pm

      Muito obrigada. É sempre bom receber um elogio, sobretudo de quem conhece bem a cidade.

      Responder

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